Mulher na política, pra quê? Entenda a importância da representatividade feminina

Hoje, as mulheres são mais de 50% da sociedade brasileira, mas ocupam pouco mais que 15% dos cargos na política.
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No começo deste ano, para ser mais precisa, no dia 24 de fevereiro, comemorou-se os 90 anos do voto feminino no Brasil. Pode até parecer muito tempo, mas, se colocarmos na ponta do lápis, essa história é extremamente nova, principalmente ao considerarmos o início dos votos por aqui. 

Na teoria, os primeiros votos no Brasil aconteceram em 1532, quando os moradores da primeira vila fundada na colônia portuguesa – São Vicente, em São Paulo – foram às urnas para eleger o Conselho Municipal. Não precisa ser nenhum matemático para perceber: a coluna entre o começo de tudo e a entrada feminina é enorme!

E, por mais que tenhamos evoluído (muito!), quando falamos da representação feminina na política de lá para cá, ainda temos um longo caminho pela frente e, para percorrê-lo, é essencial entender a importância de mulheres em cargos públicos e de políticas voltadas especificamente para nós.

Para entendermos melhor o panorama de como tudo está atualmente, vamos aos números. Segundo o Tribunal Superior Eleitoral, em 2020, apenas 15% das pessoas eleitas no Brasil eram mulheres. Quando passamos para as eleições deste ano – que ainda não chegaram ao fim – os números são relativamente parecidos.

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Na Câmara dos Deputados, a partir do próximo ano, mulheres serão 17,7% dos eleitos, o que, na prática, significa 91 das 513 cadeiras. Em 2022, notou-se um aumento de quase 3% na representação feminina por lá. Já no Senado, a realidade não é a mesma.

Apesar de, neste ano, mais mulheres entrarem na disputa por uma cadeira, um número menor conseguiu de fato sua posição. Na última vez que um terço do Senado foi trocado, em 2014, cinco mulheres conseguiram se eleger. Neste ano, esse número caiu para 4.

Sâmia Bomfim, do PSOL, foi uma das eleitas para o cargo de Deputada Federal agora em 2022. A política estava concorrendo à reeleição e conseguiu garantir seu lugar mais uma vez. De dentro da Câmara, ela contou um pouco mais da realidade que vê. “Acho que a participação feminina na política brasileira está muito aquém de representar a participação geral das mulheres na sociedade. Apesar de termos vozes muito fortes, bravas e importantes, ainda temos um número pequeno de mulheres no Parlamento, partidos e em outros espaços políticos. A cada eleição temos um pequeno avanço no número de participantes mulheres e espero que aumente mais a cada ano, mês, dia”, torce.

De fato, a representatividade feminina na política é realmente pequena, afinal, somos quase 52% da população brasileira e menos de 20% na Câmara e Senado. Apesar disso, é possível sim olhar com esperança para esse cenário, principalmente quando olhamos para algumas características de voto dos eleitores. Agora em em 2022, por exemplo, nós, mulheres, fomos maioria no eleitorado brasileiro, representando 52,65% das pessoas aptas a votar.

Muito mais que expressividade em números, é preciso entender, afinal, qual a importância efetiva de termos mulheres em cargos públicos e como isso muda, na prática, nossas vidas. Afinal, não estamos falando apenas de rostos para diversificar as fotos, mas sim, pessoas que serão responsáveis por tomar decisões que afetam diariamente o nosso dia-a-dia.

Mas por que precisamos de mulheres na política?

Por volta de 1914, Caresse Crosby estava se arrumando para um baile e começou a se irritar com seu espartilho. Cansada do desconforto, ela decidiu pegar uma linha e agulha e resolver o problema. Pediu alguns itens para sua empregada e, em questão de tempo, criou o que conhecemos hoje como sutiã. Tudo para conseguir uma forma de se sentir mais confortável na festança. O item não foi pensado por um homem, afinal, eles não entendiam – ou sabiam muito pouco – do incômodo feminino ao colocar uma peça tão longa e apertada.

Essa invenção pode ser facilmente aplicada à ideia da necessidade de mulheres na política. Afinal, ninguém melhor para resolver um problema do que alguém que o sente na pele, não é mesmo? Olhando para seu dia-a-dia, quantas coisas você não consegue listar que seriam diferentes se tivessem sido pensadas e criadas por mulheres (alô, banheiros públicos!)?

É justamente essa a questão. Ninguém melhor para olhar por nós do que nós mesmas. Precisamos sim de mulheres em cargos altos e tomando decisões com o olhar feminino, com o nosso olhar. E aqui não estamos falando especificamente de uma ou outra ideologia, uma ou outra forma de pensamento. A questão é justamente escolher quem você acha que vê o mundo de uma forma mais parecida o possível com você.

“É importantíssimo termos a diversidade representada na criação de políticas públicas, porque cada um sabe bem o que representa ser mulher, gay, negro nessa sociedade tão desigual. Portanto, no Congresso, por exemplo, vários projetos de lei têm seus textos alterados por conta de um olhar feminino ou feminista. Se não tivéssemos mulheres no parlamento, muito provavelmente, essa visão completa da sociedade ficaria distorcida”, aponta Sâmia Bomfim.

Como garantir mais mulheres na política?

Muito mais que entender a importância da representatividade feminina em cargos políticos, é preciso garantir que essas mulheres cheguem a esse cargo e se interessem por ele. Para que isso aconteça, atualmente, existem uma série de regras e incentivos para mostrar justamente a necessidade e importância de mais mulheres na política.

Nas instituições políticas – como Câmara e Senado, por exemplo – existe hoje uma série de ações afirmativas para incentivar que mulheres cheguem ao poder, como, por exemplo, uma regra que obriga os partidos a ter um percentual mínimo de candidaturas femininas.

Além disso, hoje existem uma série de ONGs, grupos e coletivos que visam justamente mostrar a relevância dessa representatividade feminina e incentivar mulheres a pensarem, falarem e buscarem cargos para se envolver com a política de alguma forma.

Por fora das grandes corporações, das instituições políticas e de coletivos específicos, um braço importante para aumentar o número de mulheres no poder são conversas singelas, em casa, bares e outros ambientes e, claro, o voto efetivo nas urnas.

Essa virada de chave acontece aí mesmo, na sua casa, com seu ciclo de amigos e familiares, fazendo com que mais homens e mais mulheres abracem essa ideia. O importante é ressaltar que, quando temos uma política mais abrangente e diversa, abraçamos nossa sociedade como um todo. Não, os homens não serão prejudicados com entrada de mais mulheres no poder, afinal, elas também olharão para eles (assim como homens que estão lá também olham para nós) e a porcentagem deles nos cargos públicos continuará existindo. A ideia é justamente termos pessoas que tenham vivências diferentes, pensem de formas diferentes e ajam de formas diferentes, para, assim, sermos todos abraçados nesse ambiente vasto que é a política.

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